Nas profundezas de uma montanha em uma ilha remota no arquipélago de Svalbard, a meio caminho entre a Noruega continental e o Polo Norte, fica o Global Seed Vault.
O Silo Global de Sementes de Svalbard (em norueguês: Svalbard globale frøhvelv), é uma gigantesca instalação de armazenamento de sementes a longo prazo, construída em 2008 próximo da localidade de Longyearbyen, no arquipélago Ártico de Svalbard, a cerca de 1300 km / 810 mi ao sul do polo norte.
A sua principal finalidade é resistir ao teste do tempo – e ao desafio de desastres naturais ou catástrofes causados pelo homem. O Seed Vault representa a maior coleção de diversidade de culturas do mundo.
O governo norueguês financiou inteiramente a construção do cofre de aproximadamente 45 milhões de kr (US$ 8,8 milhões em 2008). O armazenamento de sementes no cofre é gratuito para os usuários finais; A Noruega e a Crop Trust pagam os custos operacionais. O financiamento primário para a Trust vem de organizações como a Fundação Bill & Melinda Gates e de vários governos em todo o mundo.

Essa história começa em 1984 quando o Nordic Gene Bank começou a armazenar germoplasma de plantas nórdicas através de sementes congeladas que ficaram em uma antiga mina de carvão de Svalbard. Então, em janeiro de 2008 o Nordic Gene Bank foi fundido com outros dois grupos nórdicos de conservação, assim originando o NordGen e inaugurando o silo em 26 de fevereiro de 2008 – vale lembrar que a primeira leva de sementes já haviam chegado há um mês.
- Curiosidades
- Bunkers: abrigo subterrâneo para catástrofes, pandemias e guerras
- Antonov An-225 Mriya o maior avião do mundo
Dessa forma, 5% das sementes que hoje existem no cofre, o que seriam 18 mil amostras de 500 sementes cada, vieram do Centre for Genetic Resources of the Netherlands que faz parte da Universidade de Wageningen, na Holanda.
No primeiro aniversário do silo, mais de 90 mil sementes de culturas foram armazenadas no espaço, subindo o número total de amostras para 400 mil. Nessas novas sementes estavam inclusas 32 variedades de batatas dos bancos de genes nacionais da Irlanda, além de 20 mil novas amostras do Serviço de Pesquisa Agrícola dos EUA.
Diversas sementes também foram enviadas pelo Canadá e Suíça além de pesquisadores internacionais da Colômbia, México e Síria. Nesta remeça foram 4 toneladas de amostras que fez subir o armazenamento do cofre para 20 milhões. Foi neste momento que foi constatado que naquele lugar haviam cerca de um terço de todas as variedades de alimentos mais importantes do mundo. Ainda nesta data foi realizada uma conferência que reuniu diversos especialistas em produção de alimentos e também em mudanças climáticas em um evento que durou 3 dias em Longyearbyen.
Em 2010 sete congressistas dos EUA levaram uma série de diferentes variedades de pimenta para agregar ao cofre, já em 2013 era possível afirmar que havia um terço da diversidade de gêneros de todo o mundo no grande silo.
Em outubro de 2016 foi registrado o primeiro grande problema do silo quando um grau anormalmente grande de intrusão de água invadiu o espaço devido as temperaturas acima da média e também das fortes chuvas. Apesar de ser comum que água penetre no túnel de entrada, neste caso 15 metros do túnel foram invadidos antes da água finalmente congelar. Felizmente, tal acidente não colocou as sementes em risco, porém foi necessário elaborar melhorias na obra para prever intrusões futuras.
No 10º aniversário do silo foi enviada uma nova grande remessa com cerca de 70 mil amostras, fazendo com que agora o espaço armazenasse mais de um milhão de sementes, o que representa uma média de 12 mil anos de história agrícola de todo o planeta Terra. Em setembro de 2015 foi feita a primeira retirada de sementes do silo, isto para repor um banco genético de Aleppo, na Síria, que acabou sendo danificado devido a guerra civil que ocorre no país.

Porque existe um banco mundial de sementes?
Em todo o mundo, mais de 1.700 bancos de genótipos mantêm coleções de culturas alimentares para guarda, mas muitas delas são vulneráveis, expostas não apenas a catástrofes e guerras naturais, mas também a desastres evitáveis, como falta de financiamento ou má gestão. Algo tão banal como um freezer com mau funcionamento pode arruinar uma coleção inteira. E a perda de uma variedade de culturas é tão irreversível quanto a extinção de um dinossauro, animal ou qualquer forma de vida.

Foi o reconhecimento da vulnerabilidade dos bancos de genebra do mundo que desencadeou a ideia de estabelecer um cofre de sementes global para servir como uma instalação de armazenamento de backup. O objetivo do Vault é armazenar duplicatas (backups) de amostras de sementes das coleções de culturas do mundo.
O permafrost e as rochas espessas garantem que as amostras de sementes permaneçam congeladas mesmo sem energia. O Vault é a apólice de seguro definitiva para o suprimento mundial de alimentos, oferecendo opções para as gerações futuras superar os desafios das mudanças climáticas e do crescimento da população. Ele garantirá, por séculos, milhões de sementes que representam todas as variedades importantes de culturas disponíveis no mundo hoje. É o backup final.
De acordo com a CropTrust, o Vault está em um local ideal para armazenamento de sementes a longo prazo, por vários motivos:
- Svalbard é o norte maios distante que uma pessoa pode voar em um voo programado, oferecendo um local remoto que, no entanto, é acessível.
- Embora a entrada possa ser visível, o Vault está a mais de 100 metros da montanha.
- A área é geologicamente estável e os níveis de umidade são baixos.
- O Vault está bem acima do nível do mar, protegido das inundações oceânicas de acordo com o pior cenário do nível do mar.
- O permafrost oferece a sala do Vault um congelamento natural, fornecendo um método econômico e à prova de falhas para conservar as sementes.
Capacidade de Armazenamento
O Seed Vault tem capacidade para armazenar 4,5 milhões de variedades de culturas. Cada variedade conterá em média 500 sementes, portanto, no máximo 2,5 bilhões de sementes podem ser armazenadas no Vault.
Atualmente, de acordo com o site Crop Trust, o Vault possui mais de 980.000 amostras, originárias de quase todos os países do mundo. Desde variedades únicas dos principais alimentos africanos e asiáticos, como milho, arroz, trigo, feijão-caupi e sorgo, até as variedades europeias e sul-americanas de berinjela, alface, cevada e batata. De fato, o Vault já possui a coleção mais diversificada de sementes para cultivo de alimentos do mundo.
O foco do Vault é proteger o máximo possível de material genético de culturas do mundo, além de evitar duplicação desnecessária. Levará alguns anos para montar, porque alguns bancos de genitores precisam multiplicar os estoques de sementes primeiro e outras precisam ser regeneradas antes de serem enviadas para Svalbard.
Para uma visão geral completa das amostras armazenadas no Vault, visite o banco de dados público online da NordGen.
É necessária uma temperatura de -18ºC para o armazenamento ideal das sementes, que são armazenadas e seladas em embalagens personalizadas de três camadas. As embalagens são seladas dentro de caixas e armazenadas em prateleiras dentro do cofre. Os baixos níveis de temperatura e umidade no Vault garantem baixa atividade metabólica, mantendo as sementes viáveis por longos períodos de tempo.
Sistema Internacional e de Caixa Preta
Os depositantes que depositarão o material farão isso de forma consistente com a legislação nacional e internacional relevante. O Cofre de Sementes concorda apenas em receber sementes que são compartilhadas sob o Sistema Multilateral ou nos termos do Artigo 15 do Tratado Internacional ou sementes originárias no país do depositante.
Cada país ou instituição ainda possui e controla o acesso às sementes que depositou. O sistema de caixa preta implica que o depositante é o único que pode retirar as sementes e abrir as caixas.
Construção
O silo foi projetado pelo arquiteto Peter W. Søderman e construído no Monte Spitsein, em Svalbard, e é uma estrutura inteiramente subterrânea. O arquipélago de Svalbard situa-se a 1000 km ao norte da Noruega continental, e foi escolhido por ser um lugar a salvo das possíveis alterações climáticas causadas pelo aquecimento global e/ou quaisquer outras causas.
Em 19 de junho de 2006 os primeiros-ministros da Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca e Islândia participaram em uma cerimônia de inicio das construções, “colocando a primeira pedra”. As obras foram concluídas e o silo foi inaugurando em 26 de fevereiro de 2008.
O silo tem capacidade para abrigar três milhões de sementes. O restante será preservado através de coleções de plantas vivas ou em laboratório. O “cofre” é aberto apenas quatro vezes por ano. As câmaras estarão a −18 °C, e se por alguma razão o sistema elétrico de refrigeração falhar, o montante de gelo e neve que naturalmente recobre o silo–o permafrost–manterá as sementes entre −4 °C e −6 °C.
Estrutura
A partir da entrada, o bunker é escavado por mais de 120 metros no interior de uma montanha de gelo e de arenito. Ele é composto de três imensos salões, protegidos por sistemas de segurança máxima, superiores àqueles utilizados pelos grandes bancos.
Com efeito, nesse lugar são custodiados verdadeiros tesouros, na forma de milhares de variedades de sementes, sobretudo das 21 principais fontes alimentares agrícolas da humanidade: trigo, arroz, batata, feijão, mandioca, maçã, soja, sorgo, coco, etc.
No banco, as sementes estão a salvo de guerras, desastres naturais, mudanças climáticas, parasitas, experiências genéticas e técnicas modernas da agricultura intensiva.
O banco de sementes de Svalbard encontra-se a uma altitude de 130 metros sobre o nível do mar, teoricamente protegidas inclusive do derretimento dos gelos árticos.
Um gerador a carvão produz energia para os equipamentos de refrigeração. Se eles parassem de funcionar, o próprio ambiente garantiria durante décadas uma temperatura interna nunca superior a 3,5 graus centígrados negativos. Ela permitiria às sementes uma sobrevivência de cerca 55 anos. A própria ilha foi escolhida pela ausência de atividades tectônicas: é segura inclusive do ponto de vista sísmico.
As paredes em concreto armado e as espessas portas de aço protegeriam o edifício inclusive no caso de desastres nucleares, ataques terroristas ou bombardeios, inclusive com mísseis, bem como de acidentes aéreos. Mas a pior ameaça à existência das mais raras variedades de sementes provem, segundo os especialistas, da perda de material genético devido a desastres naturais, cortes de fundos destinados à agricultura, seleção de variedades resistentes e geneticamente modificadas, ou monoculturas que acabam com as variedades de sementes menos utilizadas.
Na chegada, as caixas com as sementes são catalogadas e depois distribuídas nos salões de segurança máxima. Cada caixa contém no máximo 400 amostras diversas. Cada amostra (ou seja, cada envelope de alumínio) contem cerca de 500 sementes.
Para se chegar às sementes é necessário passar por quatro portas: a porta de entrada (permanentemente vigiada por guardas armados), uma segunda porta após um túnel de 115 metros e outras duas portas à prova d’água e de fogo.
Antes de ser alojada nos depósitos, cada caixa é “mapeada” com todas as suas características físicas com um sistema similar àquele usado para a detecção de materiais tóxicos ou radioativos. Leitores de movimentos acompanham e gravam a entrada e os passos e gestos de todos os que trabalham no recinto.
O acesso às amostras é permitido apenas a quem trabalha no interior da estrutura. Nem mesmo os pesquisadores podem entrar nos recintos. Para as pesquisas e análises científicas eles devem se dirigir aos bancos de sementes nacionais.
Obra de arte
Ao longo da cobertura do silo e de sua fachada exposta existe uma instalação luminosa chamada Perpetual Repercussion, realizada pela artista norueguesa Dyveke Sanne, que marca a localização do cofre à distânica. Na Noruega, projetos financiados pelo governo que excedem certo orçamento devem conter uma obra de arte.

A KORO (Kunst i offentlige rom) agência governamental norueguesa responsável por administrar arte em lugares públicos, entrou em contato com a artista para instalar uma obra luminosa que ressaltasse a importância e a beleza da aurora boreal. A cobertura e a entrada do cofre são cobertas por placas de aço inoxidável de alta reflexibilidade. No verão, a instalação reflete as luzes polares enquanto que, no inverno, uma rede de cerca de 200 cabos de fibra óptica dá à instalação uma cor esverdeada.
Prêmios e honras
O Silo Global de Sementes foi classificado como número 6 nas Melhores Invenções de 2008 da Revista Time. Ele recebeu o Norwegian Lighting Prize em 2009.
Brasil
Em fevereiro de 2020, o Brasil enviou ao Svalbard Global Seed Vault cerca de 3.438 variedades de sementes coletadas no pais. A coleção reúne sementes recolhidas ao longo dos últimos 50 anos por agricultores brasileiros, embaladas em pacotes especiais e distribuídas em 11 caixas.
São variedades de arroz, milho, pimenta, cebola, abóbora, pepino, melão e melancia acondicionadas para resistir ao tempo e manter por séculos a capacidade de germinar.
“É um patrimônio do nosso povo”, comenta a bióloga Rosa Lia Barbieri, pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O órgão está na lista das 36 organizações que fazem parte desse novo depósito de amostras na Noruega.
Explorando o cofre de sementes global do Ártico
Localizado no círculo ártico, o Global Seed Vault não é apenas uma grande instalação de armazenamento de sementes de todo o mundo. O cofre está protegendo a diversidade genética agrícola do mundo e protegendo nosso futuro suprimento de alimentos em caso de catástrofe.
Vale ressaltar que, em setembro de 2015, houve a primeira retirada de sementes para repor um banco genético de Aleppo, na Síria, e que foi parcialmente danificado por conta da guerra civil no país.