Biografia
Jørn Utzon (9 de abril de 1918 – 29 de novembro de 2008), era um arquiteto dinamarquês relativamente desconhecido até que, em 29 de janeiro de 1957, foi anunciado como o vencedor do concurso internacional para uma ópera em Bennelong Point, Sydney. Ao falar sobre esta icônica obra, Louis Kahn afirmou que “o sol não sabia quão bela era sua luz, até que ela foi refletida por este edifício.” Infelizmente, Utzon nunca chegou a ver pessoalmente a Ópera de Sydney, seu trabalho mais popular, concluída.
Na escola secundária, ele começou a ajudar seu pai, diretor de um estaleiro em Alborg, Dinamarca e brilhante arquiteto naval, estudando novos projetos, elaborando planos e fazendo modelos. Esta atividade abriu outra possibilidade – a de se tornar um arquiteto naval como seu pai.
No entanto, um dos primos de seu pai, Einar Utzon-Frank, era um escultor e professor da Royal Academy of Fine Arts. Ele influenciou Jørn, que se interessou em esculpir, e depois do ensino médio, ele ganhou a admissão na Royal Academy of Fine Arts de Copenhague.
Quando se formou na Academia de Belas Artes em 1942, ele, como muitos arquitetos afetados pela Segunda Guerra Mundial, fugiu para a Suécia neutra, onde trabalhou no escritório de Hakon Ahlberg, em Estocolmo, durante o período da guerra. Ele então foi para a Finlândia para trabalhar com Alvar Aalto.
Admirador das idéias de Gunnar Asplund, bem como de Frank Lloyd Wright, ainda na escola, Utzon reconhece que Aalto, Asplund e Wright foram suas principais influências em seu próprio trabalho. Durante a próxima década, ele viajou extensivamente, visitando Marrocos, México, Estados Unidos, China, Japão, Índia e Austrália, o último destinado tornou-se um fator importante em sua vida.
Utzon mudou-se para a ilha espanhola de Maiorca no início da década de 1970. Com sua esposa, ele morava em uma casa projetada por ele, Can Feliz, até sua morte em 2008. A arquitetura é muito sólida e simples. Uma pequena janela permite que a luz fungue no espaço vivo e vista para o mar …
Jørn Utzon: Arquiteto
Embora o arquiteto dinamarquês seja mais conhecido por sua Ópera de Sydney, e realmente esta tenha sido seu projeto mais importante, um olhar sobre suas outras obras, desde os anos cinqüenta e mesmo já nos anos setenta, revelará sempre qualidades comparáveis à sua obra prima.
A ambição de Utzon como jovem designer era aparentemente ilimitada. Dez anos antes de apresentar sua proposta vencedora para a ópera em Sydney, Utzon havia entrado em um concurso (que ele não venceu) em Londres para projetar um substituto para o Crystal Palace. Como observado no obituário de Utzon realizado pelo The Guardian, a proposta para Londres demonstrou que a capital do Reino Unido uma vez teve a oportunidade de “construir algo tão extraordinário quanto a Ópera” com um projeto “pessoal, escultural e bastante fora do comum naquele momento.” Alguns argumentam que o estilo arquitetônico de Utzon dialogava com o de Eero Saarinen (que fora jurado no concurso para a Ópera de Sydney).
Considerado como representante máximo da terceira geração dos arquitetos modernos, Utzon revela um conteúdo paradoxal que parece ser o que instigou e moveu sua capacidade criadora. A relação intensa com a arquitetura vernácula, a tradição nórdica, as influências internacionais mais variadas, as incursões pela padronização de elementos, a pré-fabricação, as abstrações formais livres, equilibram-se em sua obra conforme os requerimentos de cada uma e de sua própria idiossincrasia, gerando grande diversidade de soluções.
As características formais da arquitetura da terceira geração estão marcadas, como escreve Montaner, pela Capela de Ronchamp, de Le Corbusier (1950-55), pela Ópera de Sydney de Utzon (1958) e pela obra de Saarinen. Este conjunto de obras tem, formalmente, traços expressionistas, cujo ponto de partida, está na segunda geração dos modernos, e em algumas obras dos arquitetos da primeira geração. A obra de Utzon, no conjunto, não tem este cunho expressionista. Poucas obras suas podem ser assim definidas. Ainda conforme Montaner, outra característica formal da arquitetura moderna de terceira geração, é a idéia das “esculturas sobre a plataforma”. Aí Utzon foi fundador. A Ópera de Sydney é exemplar e se encaixa perfeitamente neste arquétipo. Também seu projeto para a Escola Superior para Trabalhadores em Helsingør, tem a grande plataforma como definidor do espaço, sobre o qual são desenvolvidos vários edifícios, embora estes não sejam volumes escultóricos nem expressionistas. É importante notar nestes dois projetos que a plataforma tem um papel fundamental na recriação do espaço aberto, valorizando os interstícios entre edifícios e até criando um pátio sobre a mesma, como foco principal da planta, no segundo caso. O sentido de lugar está sempre presente na obra de Utzon, oferecendo elementos para compreensão do geniuslocci, como comenta Christian Norberg-Schulz.
A importância da plataforma em Utzon transcende a compreensão do elemento arquitetônico em si. Em um texto datado de 1962, “Platforms and Plateaux”, Utzon define a arquitetura em termos de plataformas horizontais e tetos flutuantes, fazendo relações da arquitetura com elementos naturais e uma espécie de representação do cosmo, que segundo Norberg-Schulz, além do conteúdo metafórico evocando o céu e a terra, devolvem à arquitetura seu estatuto de arte. “A plataforma também faz emergirem as qualidades inerentes ao sítio, formando um sutil contraponto ao contorno do terreno. Nos projetos de Utzon, as coberturas vêm a ser a manifestação de como a vida humana ocorre sob o céu”.
Por estas definições pode-se compreender que a ideia de plataforma ou platô corresponde também ao conjunto de casas associadas, com regras que as acomodam em grupos e recriam as topografias, num jogo que parece às vezes, extremamente racional e pragmático, mas ao qual também se agrega abstração e poesia.
Como arquiteto moderno de terceira geração, a adoção em sua linguagem, de elementos de relação com o contexto, do uso de elementos vernaculares, referências à natureza, do uso de formas orgânicas ou escultóricas e ainda da valorização das texturas e de formas tradicionais, são uma reação contra a neutralidade exacerbada do modelo maquinista dos anos vinte e trinta do século passado. Utzon desenvolve um novo empirismo, em que todos estes elementos acima descritos são sempre interpretações criativas, nunca meras reproduções. Utzon persegue quase sempre, sobre uma urdidura clara e legível, novas maneiras de utilizar seu vasto repertório de elementos. Utiliza com freqüência em suas composições, o princípio do tema com variações.
Nos projetos mais recentes, como o da Igreja de Bagsvaerd (Copenhague, 1967-76), e de sua casa Can Lis (Maiorca, 1972), mantém inquietações projetuais próprias de uma mente sempre estimulada.
O partido em cantoneira, repetido nas Kingohouses e em Fredensborg, corroboram a tradição. A Villa Snellmannn de Asplund, 1914-18, Djurshølm, Suécia, a casa de verão de Aalto, 1952-54, na Ilha Muuratsalø, Islândia, as unidades das Kingohouses e as de Fredensborg, suas, podem ser alinhadas e são comparáveis como partido. A produção mais recente de Utzon em Maiorca confirma sua linhagem e evidencia mais. Suas duas casas, Can Lis de 1972 e Can Feliz de 1994, fazem referências à sua própria obra, incorporam elementos da arquitetura local, já à maneira da revisão pós-modernista e, mais do que nunca, tomam como base o clima e a presença natural. Destes ingredientes, extrai o leitmotiv, expresso por um forte sentido de lugar.
Na trajetória de Utzon é sempre perceptível uma leitura básica, fortemente vinculada a sua cultura mais tradicional. Sobre esta vão se agregando ou sobrepondo suas especulações. Variam conforme a época, as teorias do momento e a sua interpretação pessoal para cada situação. Estas interpretações constituíram um amálgama que se somam ao longo do tempo e ocupam um espaço significativo para o conhecimento arquitetônico construído como obra única.
A produção e a longa vida de Jørn Utzon deixaram um legado importante para a arquitetura do século XX. Neste século, ainda iniciante, após receber o Prêmio Pritzker em 2003, e seu falecimento recente, deve aumentar o interesse no estudo de sua arquitetura, freqüentemente presidida pela metáfora do céu e da terra, entre os quais Utzon já não se encontra.
Dados biográficos
- 1918 – Nasce em Copenhague, Dinamarca.
- 1937 a 1942 – Estuda na Real Academia de Arte de Copenhague onde é discípulo de K. Fisker e Steen Eiler Rasmussen.
- 1943 a 1945 – Trabalha no escritório de Gunnar Asplund em Estocolmo, Suécia.
- 1946 – Trabalha no escritório de Alvar Aalto em Helsinki, Finlândia.
- 1949 – Visita a Frank Lloyd Wright, no Taliesin West, Arizona – EUA.
- 1952 – Projeta sua própria casa em Hellebaeck, Dinamarca.
- 1957 – Ganha o concurso de projetos para a Ópera de Sydney, Austrália.
- 1959 – Estabelece-se em Sydney para acompanhar a obra da Ópera.Ao final dos anos quarenta e durante os cinqüenta, realiza inúmeras viagens. Visita o México, Japão, China, Nepal, Índia, Marrocos, o norte da África, além de toda Europa.
- 1966 – Retorno à Europa.
- 1967 a 1976 – Projeto e construção da Igreja de Bagsvaerd, Dinamarca.
- 1972 – Projeta sua primeira casa em Maiorca, Espanha.1978 – Projeto do Parlamento do Kwait.
- 1982 – Medalha de Ouro Alvar Aalto em Helsinki
- 1994 – Projeta sua segunda casa em Maiorca, Espanha.
- 1994 – Medalha de Ouro da Academia de Arquitetura da França
- 1998 – Prêmio Sonning, Dinamarca
- 2000 – Mantém escritório em Hellebaeck, Dinamarca
- 2003 – Prêmio Pritzker
- 2008 – Falece em 29 de novembro em Copenhague.
Principais obras
- 1952 – Casa do arquiteto, em Helleback, ao norte da Ilha Seeland, Dinamarca.
- 1953 – Casa Midelboe, em Holte, perto de Copenhague, Dinamarca.
- 1956-58 – Casas Kingo, em Helsingør, Dinamarca.
- 1957 – Concurso da Ópera de Sydney, Austrália.
- 1958 – Casas em Birkehøj, Dinamarca
- .1959 – Pavilhão para a Feira Mundial de Copenhague, Dinamarca.
- 1962-63 – Casas em Fredensborg, Dinamarca.
- 1963 – Museu em Silkeborg, Dinamarca.
- 1964 – Teatro em Zurique, Suíça.
- 1966 – Centro Urbano de Farum.
- 1967-76 – Igreja em Bagsvaerd, Copenhague, Dinamarca.
- 1972 – Casa do arquiteto, Can Lis, em Maiorca, Espanha.
- 1978 – Parlamento do Kwait.
- 1994 – Casa do arquiteto, Can Feliz, em Maiorca, Espanha.
Referências: